19 julho 2013

Eu chorei e ele não viu, eu balbuciei e ele não escutou

Mônica Carvalho | AGAPASM

Titulo original: Na Caixa Preta, Meu Relato...!

Tive um imenso prazer de conviver (poucos mais inesquecíveis dias) com Alex Garcia. Homem de estatura baixa... Jovem, inteligente, bem arrumado e um incrível espírito inquieto, sonhador. Pensei como iria comunicar com ele pessoalmente, diante da dificuldade minha de fazê-lo... O dia estava próximo... E foi sem dúvida a pessoa que mais me preocupei. Não que eu tenha faltado zelo e carinho com as demais pessoas, mas ele, no meu íntimo, precisava que eu fosse mais que uma Mônica.

Anteriormente fazia de forma "normal" pela internet, com contatos quase que diários para atendê-lo em suas solicitações "urgentes", "prioritárias" e "importantes". Repetiu milhões de vezes a mesma necessidade e eu pacientemente o escutava (digo: lia) e o acolhia.

Mas estava longe de perceber o que ele me dizia. E repetia novamente: - Você não entende Mônica. Deve ser exatamente como eu lhe digo.

Normal: com sistema apropriado de tecnologia assistiva para leitura e comunicação com pessoas com deficiência como a dele...

E assim o fizemos! Estava nervosa devido a tudo que ocorria, que agora não é necessário explicitar... Mas só Deus e as pessoas que estavam ao meu redor, sabiam o que eu passava naquele momento.

Sim... Lá vem ele... E digo este é o Alex!

Seu pai se aproximou e me explicou que agora eu devia fazer o que era devido. Aproximei-me daquele cara simpático e ele falou: quem é? Eu peguei a mão dele... E com meu dedo indicador fiz a letra do meu primeiro nome: "M"... Depois o "O"... E antes de iniciar a letra seguinte... Ele falou: Monicaaaa!!!

Foi uma sensação bacana, de felicidade de amigos que se encontram. Muito bom mesmo.

A partir dai nossa comunicação foi através da mão (dele)... Onde eu usava como "papel", e meu dedo indicador como "caneta".... E assim fui passando o que foi preciso compartilhar.

Ele muito falante... E eu o deixava bem à vontade. Imaginem... Eu que falo pra caramba... Entendia tudo de forma transversa. Aprendia a cada segundo ao lado dele. Fizemos as honras em evento... e participamos de sua palestra sobre a Pessoa Surdocega.

Imaginem: uma pessoa surdocega!

O que vocês imaginam? Eu... Uma imensa Caixa Preta, sem portas e janelas... Em imensa e infinita escuridão-solidão!

Penso em quantas vezes me senti assim, em plena escuridão, por falta de carinho, atenção, ou simplesmente uma direção. Não... Alex morava em uma caixa preta! Alex vivia... Dormia e acordava em uma caixa preta... Naquela caixa que eu imaginava... Eu imaginava e ele vivia!

Após evento fomos a um restaurante... E sentei ao lado dele... Como falei... Todos os outros amados e novos amigos estavam lá também, mas fiz a escolha devida.

Durante a refeição ele confirmou...

"Mônica você não imagina o que é isso" (e eu chorei e ele não viu, eu balbuciei... e ele não escutou... e ele estava só!)

Ele pegou na minha mão e disse: eu tenho isso aqui... Sentidos! Fez um carinho... Depois disse... Você é cheirosa... E logo levou o alimento a boca... E disse... Hum é muito gostoso... E eu ri!

Nunca tinha visto um homem pegar com tanta delicadeza, sentir com tanta emoção e perceber com tanta energia outra pessoa. Tudo ali era mágico, mas também trágico.

Alex veio ao Piauí como palestrante em evento para pessoas com deficiência... e na área dele... Veio dar uma Luz as muitas mães e pessoas que tratam e são portadoras de doenças que causam cegueira e surdez. No caso de Alex... Ele um dia enxergou e também escutou. Por conta sabia escrever (em tecnologia assistida para sua deficiência).

Ele precisava de atenção, de pessoas em constante atendimento as suas demandas. Ele também precisava viver e andar, se comunicar!

Repassamos para três queridas voluntárias o atendimento e elas o fizeram com todo carinho. Seu pai acompanhava de longe... Com semblante cansado me confidenciou muitas coisas... E ali era uma luta diária em si mesmo, com familiares, com a sociedade e o governo.

Reclamamos de muitas coisas..e se fazem muitas idiotices (pra ser apenas educada, o nome apropriado é outro mesmo). As pessoas não pensam! Não fazem reflexão... Só pensam em seu mundo perfeito, de pessoas perfeitas e festas perfeitas e não lutam por aqueles que realmente precisam de nossa atenção. Os números só crescem por falta de informação, por falta de saúde... Entendimento e humanidade!

No dia, 27 de junho, em que é preciso manifestar apoio aos surdocegos... Penso que ainda não fizemos nada!

Na caixa preta, que agora me encontro em relato, quero dedicar todas as emoções, sentimentos, luzes e cores, sons e gritos de alegria, movimentos e danças, a este cara... Alex Garcia, que luta diariamente pela causa da surdocegueira em nosso País.

É "Simples" fazer o "simples"... E não entendemos porque não o fazem!

Ao amigo, distante, Alex... Nosso amor e carinho!

TAMO JUNTO SEMPRE!

Agradeço a DEUS de ter conhecido você!

Meu beijo carinhoso!

Mônica Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.