Giselle Paulino | O Valor | 21 mar 13
A falta de qualificação profissional costuma ser o principal argumento das empresas para justificar a limitada contratação de pessoas com deficiência. Mas, segundo o gerente de recursos humanos da Cinpal, José Mileske, essa característica não se limita a esse segmento da população. "Muitos candidatos que aparecem são barrados nos testes de interpretação de texto, gramática e matemática, aplicados durante nosso processo de seleção. Alguns até apresentam diplomas, mas não possuem conhecimentos básicos."
Embora indicadores como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, relacionem grau de instrução e posição no mercado de trabalho das pessoas com deficiências, esse é reflexo do que acontece no país. "As empresas repetem como um mantra que essas pessoas não são qualificadas, mas esquecem que a educação está muito ruim no país todo, afirma Marta Gil, socióloga, coordenadora executiva do Amana-key. "Quando comparamos esses dois grupos, as diferenças não são tão grandes."
Há 12 anos, dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região viram na lei de cotas para deficientes uma oportunidade para que pessoas acidentadas reabilitadas pudessem voltar a trabalhar. No início, a Cinpal reagiu à proposta "mas fomos convencidos de que se não fizéssemos, outras empresas também não fariam", diz Mileske. Para encontrar candidatos, recorreu ao cadastro do serviço social do município. Atualmente, a empresa tem 20% de funcionários com deficiência.
Uma pesquisa realizada pelo sindicato mostra que as metalúrgicas de Osasco e região já cumprem 82,4% das vagas legalmente reservadas às pessoas com deficiência (PCD). O setor automotivo é um dos mais avançados. Algumas empresas incluíram em suas políticas uma cláusula que prevê contratação prioritária de PCD. O debate sobre lei de cotas se tornou importante para o sindicato. Para Carlos Clemente Aparício, vice-presidente da entidade, as empresas precisam mudar a forma como veem os PCD.
Esse grupo frequenta cada vez mais cursos técnicos das escolas, como o Senai, que prepara os alunos para diversas áreas da indústria. Em São Paulo, foram quase 7 mil matrículas durante 2012, representando um aumento de 20% em relação ao ano anterior. A participação nas escolas regulares também aumentou. Em 2010, cerca de 28 mil PDC cursaram o ensino médio, contra 13.300 em 2007.
Reinaldo Bugarelli, da Txai Consultoria e Educação, afirma que o Brasil tem 325 mil pessoas com deficiência trabalhando no mercado formal. "Não é um número desprezível." Para ele, significa que a lei de cotas não é um absurdo. Bugarelli diz que ainda existe muita barreira e preconceito. "As empresas gastam fortunas para encontrar profissionais com determinados perfis. Mas isso não inclui as PDC."
Na hora de contratar, o HSBC, com 1.300 colaboradores com algum tipo de deficiência, costuma recorrer a organizações como a Universidade Livre para a Pessoa Humana (Unilehu) e Instituto Aprender e Trabalhar. O banco criou um programa de inclusão, capacitação e retenção. Durante o primeiro ano, o funcionário com deficiência que precisa de treino, fica alocado no setor de RH e passa por um processo de treinamento. Nesse período, aprende temas teóricos sobre indústria financeira, ganha familiaridade com produtos bancários e áreas do banco.
Quando Renildo Alcantara, 38 anos, teve as duas pernas amputadas, em 2004, por causa de um problema vascular, achava que não iria mais arrumar emprego. Tinha ensino médio completo e pouca experiência profissional. Um ano depois, graças à lei 8.213, de 1991, que regula a contratação de pessoas com deficiência e determina uma cota mínima para empresas com mais de cem funcionários, Renildo estava trabalhando na Cinpal, de Taboão da Serra. "O maior desafio seria me adaptar ao local de trabalho. Não tive muita chance de estudar quando era mais jovem. Pensava que estaria fora do mercado", diz.
Apesar da falta de qualificação ainda ser a maior barreira, dados da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão da Prefeitura de Osasco, mostram que em 2007, grande parte das pessoas que estavam ocupadas naquela região, com ou sem deficiência, possuía apenas o ensino médio.
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