Folha de São Paulo | 23.01.12
As dificuldades ainda enfrentadas pela maioria das empresas brasileiras para contratar deficientes justificam uma reavaliação cuidadosa dos procedimentos hoje adotados no país para garantir a inserção dessa parcela da população no mercado de trabalho.
São inegáveis os avanços promovidos pela legislação que, desde os anos 1990, exige de empresas com mais de cem funcionários a reserva de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência.
Ainda assim, reportagem publicada nesta Folha informou que apenas 25% das empresas preenchem plenamente as cotas exigidas por lei. Mais ainda: entre 2007 e 2010, o número de deficientes contratados caiu de 349 mil para 306 mil, segundo registros do Ministério do Trabalho.
Por certo a barreira do preconceito ainda se imiscui entre candidatos com algum tipo de deficiência e as funções laborais que estariam habilitados a desempenhar. Mas não devem ser ignorados outros obstáculos, que independem da boa ou da má vontade de quem contrata para adequar-se à lei.
Empresários se queixam da dificuldade para encontrar profissionais devidamente qualificados em número suficiente para preencher as cotas. Não parece descabido o argumento, quando se conhecem as precariedades do sistema escolar brasileiro. Com certeza é ainda mais grave sua inépcia no atendimento a necessidades especiais ou na simples garantia de acesso físico às salas de aula.
Em ações na Justiça, empresas têm requisitado a flexibilização da exigência de certificado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para definir quem é deficiente. Reclamam do excesso de burocracia na emissão do documento.
A lentidão burocrática é inaceitável numa iniciativa estatal que se propõe justamente a remover obstáculos. Para garantir a inclusão de deficientes, pode até ser justo não abrandar algumas das exigências criticadas por empresários, mas elas perdem legitimidade e eficácia quando o Estado falha em sua execução.
A simples estipulação de cotas, ainda que acompanhadas de ameaças e punições, não se tem mostrado suficiente, como se vê. Seria proveitoso, portanto, que empresários, governo e sindicatos avaliassem a possível adoção de medidas alternativas, como a criação de incentivos fiscais -recurso que, em vez de apenas punir os infratores, poderia estimular a contratação de mais deficientes.
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